Pelo menos no que diz respeito à segurança de dados, o segmento de saúde ainda parece enfrentar grandes desafios. Em estudo recente, a companhia jurídica BakerHostetler revelou que a área conseguiu bater o recorde de violações de segurança cibernética nos EUA em 2018 – um quarto do total de incidentes relatados. Por lá, números relativos à Previdência Social foram os mais afetados (37% do todo), enquanto mais da metade dos incidentes envolveram erros internos e atividades dos funcionários. As informações são da Data Security Incident Response Report, pesquisa publicada pela instituição em abril.
Já por aqui, faz oito meses desde que um grupo de hackers invadiu o sistema do Sistema Único de Saúde (SUS) e alterou os dados dos pacientes, selecionando a opção ‘óbito’ para pessoas ainda vivas. De forma similar, há três meses, outra ameaça chamou atenção: dessa vez, dados de mais de 2 milhões de usuários foram expostos na internet. Durante o ataque, seu autor ainda teria dito à imprensa que a intenção foi apenas mostrar como o sistema de cadastro do SUS permite brechas para a captura de informações.
Cenário de crise, novas alternativas
Um dos principais riscos a nível global. Foi assim que os ataques virtuais foram identificados pelo Fórum Econômico Mundial, encontro que acontece anualmente e reúne representantes de áreas como finanças e economia para falar de questões urgentes hoje. As reflexões ganharam tanta proporção que, no início de 2019, a entidade publicou um relatório completo sobre cibersegurança. O estudo apontou que a maior parte das violações de dados não são necessariamente efeito da habilidade dos hackers, mas ocorre por conta da falta de medidas de segurança das instituições.
Há quem diga que o foco do fórum na cibersegurança é algo dos últimos meses, mas, há um ano, o grupo já dava os primeiros sinais da preocupação com a temática. Pensando em uma plataforma global para que governos, empresas e agências reguladoras colaborem em desafios de segurança cibernética, em abril de 2018, foi criado o Centro Global de Segurança Cibernética. O espaço, com sede em Genebra, na Suíça, prevê a aplicação da inteligência artificial, robótica e internet das coisas de forma tranquila — no fim das contas, uma Quarta Revolução Industrial mais protegida.
Ultimamente, atitudes em prol da segurança cibernética também têm sido recorrentes em outras partes do mundo. No caso do Brasil, as organizações já se preparam para a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), sancionada ainda no ano passado pelo presidente Michel Temer. De número 13.709/18, ela vem para estabelecer normas rígidas para o uso de informações pessoais por parte das empresas. Com a regulamentação, o país passa a fazer parte dos mais de 120 que contam hoje com formas de legislar a utilização de dados dos cidadãos. Como esperado, entre as exigências, destaca-se a limitação do uso de dados ao mínimo necessário para seu tratamento.
Startups apostam no tema
“Mais do que nunca, agora é a hora de discutirmos a segurança digital na área da saúde, o que nos leva à grande questão: de que forma as clínicas e hospitais têm acessado os dados do paciente? E, afinal, como ocorre o compartilhamento desses dados com os demais parceiros e fornecedores da instituição?” questiona o empreendedor Fernando Soares, CEO da startup de health tech CM Tecnologia. A instituição, à ativa desde 2012, tem como foco soluções tecnológicas para otimizar a Jornada do Paciente – e vê na atual discussão em torno da segurança de dados uma oportunidade.
O lançamento da vez é previsto ainda para 2019 e pretende organizar o acesso aos dados de hospitais, laboratórios e clínicas, os disponibilizando de forma personalizada a cada um dos parceiros da instituição. A ideia é que o CM Connect, nome dado à aposta atual, possibilite a empresas do ramo de saúde total controle de como seus bancos de dados são utilizados por terceiros por meio de um gateway inédito que os centraliza. Em outras palavras, uma forma ideal e segura de permitir o acesso a informações como faturamento, detalhes sobre consultas e a agenda de um hospital, por exemplo.
“No fim, todos agradecem, seja o paciente, que terá a certeza de que suas informações estão em boas mãos, ou a instituição, que receberá relatórios constantes do uso de dados por parte dos parceiros. Diminuir preocupações nessa direção é nosso objetivo”, finaliza Soares.
Website: https://cmtecnologia.com.br